Sexta-feira, 31 de Outubro de 2008

vOZES à rASCA... (II)

...Artigos muito pertinentes sobre o assunto por aqui sempre em epígrafe, e que vou encontrando pela World Wide Web.

no DN Madeira online

Por Vitorino Seixas à 10/12/2007

"Geração à rasca

 

Muito se tem escrito sobre a “geração mil euros”, a geração constituída pelos jovens licenciados que possuem pós-graduações e mestrados, que falam duas ou mais línguas, que realizaram estágios e que só conseguem obter empregos precários com remunerações inferiores a 1000 euros.
Este fenómeno, que foi baptizado pelos franceses e se propagou rapidamente a outros países europeus como a Espanha, a Itália e a Alemanha, chegou também a Portugal, apenas com a diferença nas remunerações que são inferiores. O denominador comum, em todos os países, é a dificuldade dos jovens licenciados conquistarem o seu lugar na sociedade e construírem a sua vida de forma autónoma.

Esta realidade, que ensombra o futuro dos jovens portugueses, contrasta vivamente com a situação vivida pela minha geração. Na minha juventude, o diploma funcionava como uma garantia de emprego e a generalidade dos jovens licenciados conseguia obter um emprego bem remunerado.
Sem qualquer conotação política pode dizer-se que há uma fronteira entre as duas gerações: o 25 de Abril de 1974. Há uma Geração 74, que nasceu antes dessa data, e uma Geração 75, que nasceu depois e que começou a entrar no mercado de trabalho nesta última década, após a conclusão da licenciatura.
Muitos analistas já escreveram sobre esta mudança geracional. Uma das análises mais polémicas foi o editorial “Geração Rasca”, de Vicente Jorge Silva, publicado em 1994 no Público, por altura das manifestações estudantis contra as políticas educativas, em especial contra o aumento das propinas pelas universidades.

No editorial, Vicente Jorge Silva olhava para os jovens com desconfiança. Para ele, um representante da geração revolucionária, a Geração 75 não tinha convicções, valores, princípios e sonhos para lutar. Em síntese, o seu editorial reflectia a visão de alguém, que tinha lutado por causas e feito uma revolução, que considerava que a nova geração era constituída por jovens irresponsáveis, indisciplinados e individualistas.
Passadas três décadas, o que mudou? Hoje, a Geração 74 está confortável, conquistou o seu lugar ao sol, tem segurança de emprego e reformou-se aos 55 anos ou está em vias de se reformar. Por outro lado, a Geração 75, que cresceu com a sida e a droga, não sabe como conquistar o seu lugar ao sol. O futuro está nublado, com o espectro do desemprego e do trabalho precário. É uma geração que parece condenada ao estatuto de eternos adolescentes que têm de viver em casa dos pais.
Neste contexto, em que os revolucionários de 74 não estão dispostos a ceder o seu lugar ao sol aos jovens, o aumento da idade da reforma traz dificuldades acrescidas. Se é verdade que a Geração 74 fez a revolução de Abril tendo lutado pela liberdade, pela abolição da censura e pelo fim da guerra colonial, também é verdade que deixa uma herança pesada. A Geração 75 tem pela frente uma tarefa hercúlea: além de enfrentar um futuro instável e adverso, com o anunciado fim do emprego, das regalias sociais e das reformas, ainda tem de pagar o défice público, emagrecer o aparelho do estado, evitar a falência da segurança social e garantir a sustentabilidade ambiental de Portugal.

Não é pois de estranhar que os jovens retribuam o epíteto “Geração rasca” àqueles que, por acção ou omissão, lhes deixaram tão pesada herança. Eles são, de facto, uma “Geração à rasca”.

“Pai -Na tua idade, já tinha um ideal!
Filho: E, então, vendeste-o a quem?”, Le Nouvel Observateur
...

 

::::

Paulo Jerónimo às 00:01
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2 comentários:
De Portomaravilha a 31 de Outubro de 2008 às 22:19
Viva !

Não creio que a geração de 74 tenha deixado uma herança pesada.

Que eu saiba Portugal continua a ter excelentes reservas em ouro !

O resto é politiquice !

O que a geração 74 não soube é dar liberdade . Se soubesse ter dado liberdade aos filhos, estes não ficariam em casa dos pais até aos 27 anos. E, quando digo liberdade,penso na liberdade sexual, por exemplo.

Aí sim a geração de 74 tem enormes responsabilidades. O seu discurso foi político-politiqueiro . Mas nunca existiu, em Portugal, a meu
conhecimento, uma reflexão teorizada sobre o modo de vida.

Trostki tem um grande livro que é desconhecido para a maioria dos trostkistas : " Questões do modo de vida ". Foi escrito em 1924 e já afirma que o seu ideal está condenado porque o povo Russo continua incívico, os homens continuam a bater nas mulheres,a cuspir no chão, a não respeitar filas etc.

Pessoalmente não sou fã de Trostki. Mas acho interessante que ele tivesse colocado o dedo na ferida, para a sua época.

A geração de 74 resolveu de maneira admirável os problemas políticos da sua época, quanto a mim : A democracia, a descolonização e a entrada na cee ( ue da altura).

Mas esqueceu o modo de vida !

Portugal continua um país bem atrasado em tudo o que diz respeito às revendicações femininas e,logo,masculinas. O aborto, por exemplo. O número de mulheres batidas,...

A geração de 74 esqueceu o "saber fazer". Ficou demasiada pegada ao discurso político.

Esqueceu de valorizar o trabalho manual.

Foi e é , quanto a mim, o maior pecado.

Esqueceu o modo de vida. Esqueceu que a vida é feita de pequenos nadas !

Pertence, acho, à geração à rasca, de começar a pensar e a teorizar a importância do "saber fazer".

Quem "sabe fazer" tem ouro sobre as mãos. Não será apelidado senhor doutor . Mas qual é a crise ?

Portugal é ainda uma criança ( o Fascismo destruiu bem a memória) . Só em 1998 aparece a primeira história da história em Portugal ( Luis Reis Torgal, José Amado Mendes, Fernando Catroga).

Talvez a geração de 74 tenha pecado por isso. Não se ter libertado da ideia que trabalho manual não é trabalho de escravo.

E Viva o Porto !




De Paulo Jerónimo a 1 de Novembro de 2008 às 00:16
Mas que rico visitante que eu arranjei! Gosto de quem espevite para a reflexão, e lá nisso, PortoMaravilha, tens os teus créditos.

Agora, a Geração de 74... e depois a de setenta e cinco.
Acabamos por estar mais ou menos de acordo, o texto, a tua opinião, e a minha.

O que o texto de vitorino Seixas puxa entre outras coisas a baila, é que a geração de 74, orientou-se bemzinha, e não acautelou o futuro dos de 75, por acaso, o meu ano. Também eu chamo a isso politiquices, em última instancia, xico-espertices.
Garantiram a reforma deles, Empregabilidade própera e carreiras de vida, sobretudo a pública, e o que é facto, é que hoje a geração de 75 ve-se a sustentar a de 74, e sem futuro minimamente confiavel. Certezas têm várias, que a "mama" como os pais tiveram, acabou. Eu pessoalmente não acredito que o estado me acautele uma reforma para daqui a 30 anos,

Mas não me descupalbilizo, eu sou dos que pensa que a "geração de 75", a minha, é a geração que se segue, e como dizes e muito bem, eu comungo que temos responsabilidades, e é altura de as assumirmos, de andar para a frente.
Subscrevo está tua frase: "Pertence, acho, à geração à rasca, de começar a pensar e a teorizar a importância do "saber fazer".
A xico-espertice da geração de 74 levou a que se abandona-se ou deixa-se de se evoluir no que hoje poderia ser das nossas maiores riquezas, agricultura e Pescas, entre outros. Manganões que somos, todos querem ter um "emprego" e daí que ao que é que basicamente Portugal se dedica? Sobretudo ao comercio...
Estar atras de um balcão, ou de uma secretária, é dos empregos mais banais por cá, e o que eu penso é que a geração de 75. a tal Geração Rasca" tem de se convencer que assim não vamos lá. que tem de se suar para conseguir, que temos de produzir, ir mesmo a fonte de produção, para depois sim termos produto para comercializar. Em vez de pormos o carro a frente dos bois e termos casa de comercio para tudo (mas que não produzimos) há que repensar, levantar os cuzinhos comodamente dos empregos de cadeira, e ir produzir a matéria prima.
Para mim o pecado da geração de 74 foi esse, o que tu chamas do "saber fazer", habituaram-se a comprar tudo feito, e isso tem os seus custos.
Os sectores de agricultura e pesca, que sucessivos goevernos têm desprezado, e a população também, somos todos muito finos... são dos taís exemplos, que numa escala industrializada, aliada as habilitações que a geração de 75 tem adquirido poderiam vingar. Olhe-se para o exemplo dos paises Nórdicos. Que riquezas eles têm? Petróleo? Eissh! Nem é preciso ir tão longe, basta olhar para a nossa vizinha Espanha, os nossos principais e reais produtores, Quem diz estes sectores que mencionei, diz outros, mas isso são dos tais trabalhos que fazem suar, e a malta não está para isso. Já só tenho 1361 caracteres para gastar :-), e isto dá tudo muito "pano para mangas", mas enfim!
O que era preciso por parte da geração de 75, era um murro na mesa, para sair-mos desta inercia. Mas nem com esta tempera a geração de 74 nos soube criar...




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